História de minha autoria-Los Desperados-Parte3

Discussão em 'Contos' iniciado por VladmirMakarov, 27 Maio 2013.

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  1. VladmirMakarov

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    nova parte por falta de caracteres....

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    Capítulo 13 - Reencontro e o Anjo da Guerra

    Os escombros do míssil atirado pelo piloto faziam uma elevação que era difícil de ser transpassada, mas com um pouco de esforço, passei-a. Vi outro complexo, como havia pensado. Os prédios estavam inutilizados, e as portas estavam soldadas. O que vi foi prédios montados na larga rua, feitos de uma parede que era facilmente desmontada, de uma madeira fina, compensada. As juntas eram feitas de um ferro moldado para não ser oxidado, e não havia qualquer prego ou cimento entre elas. O barulho atrairia os mordedores, então decidi investigar o lugar o mais rápido que pudesse.

    Com o ar cheirando á Napalm e com um tom avermelhado, fui adentrando as vielas criadas por essas casas estranhas. Havia casas com uma cruz vermelha destacada em cima das portas. Outra, com um capacete também em cima das portas. Noutra, um pão na placa. Uma arma naquela, uma cama nessa. Era uma verdadeira cidade entre a cidade. O complexo se arrastava por até onde eu não poderia ver, pegando ruas de todos os lados e criando ângulos perpendiculares á toda hora.

    Primeiro, eu corri entre os complexos para me despistar. Minha sorte é que não havia mordedores ali. Era com certeza a base dos mercenários, pois entre aquelas construções, haviam carros parados na rua, assim como caminhonetes e carros esportivos. Quando achei que estava em uma distância razoável e que não poderia ser achado, resolvi começar a vasculhar as casas. Estranhamente, os mercenários não estavam reunidos ali. Não havia ninguém dentro delas. Nem dormindo, nem espreitando. Ninguém. Provavelmente estariam em outra missão.

    Cada rua me parecia enumerada por uma placa, que estava em cada esquina. Tudo parecia perfeito dali, na maior organização possível. Embora tenha adentrado bem o complexo, acho que seria fácil me acharem ali.

    Entrei numa das casas, que tinha a placa do pão em cima. Para minha surpresa, não estava trancada. A casa não era grande; 1 dúzia de passos e eu encostaria na outra parede. A mesma coisa era para os lados. Mas a minha surpresa, é que ali, se estocavam alimentos. E não eram poucos alimentos. Haviam prateleiras enormes, separadas em seções, cheias de comida. E ainda havia geladeiras ligadas por um tonel de gás, daqueles usados em cozinha. Como isso era possível? Afinal o que liga as geladeiras é a eletricidade, não gás de cozinha. Provavelmente eles passariam por um transformador e aquela não era a principal fonte de energia. Quem sabe?
    As seções eram de, respectivamente da esquerda para a direita: carnes bovinas; carnes suínas; carnes ovinas; frangos e peixes; ovos; leguminosas; grãos; legumes e verduras; frutas; enlatados em geral; água; sucos; refrigerantes e outras bebidas em geral; vitaminas.

    As prateleiras quase consumiam todo o espaço vertical que a pequena casa dispunha, e trazia alimentos para alimentar quase um grupo de 50 pessoas por no mínimo 1 semana. Se todas as casas fossem assim...

    Sai daquela e entrei noutra. As mesmas prateleiras e a mesma quantidade de alimentos. Entrei em mais uma e o resultado não foi diferente. Sai dessa e olhei em frente, em direção á rua. Não conseguia ver seu fim, e ela se estenderia por quilômetros, á meu ver. E no meu campo de visão, já pude contar mais de 20 das casas de comida. O que totalizando, alimentaria um batalhão todo. Então seria mesmo o quartel dos mercenários? Aquilo me parecia com o real centro de refugiados. Mas inabitado.

    Numa rua ao lado da minha, comecei a ouvir um grunhido. O que eu pensava que era inabitado, agora se transformava num covil. Felizmente só havia um deles. Pensando que ele não me vira, fui para dentro de uma dessas casas de alimentos. O grunhido ficava mais e mais perto. Muni-me de uma garrafa de vinho que encontrei numa das prateleiras e esperei. Quando o vi entrando pela porta, meti a garrafa em sua cabeça, quebrando-a em pedacinhos. Mas o bicho também tinha reflexos e me empurrou enquanto a garrafa se despedaçava nele. Ele caiu; eu também. Mas os cacos de vidro eram pontudos, e o descerebrado lento. Peguei um dos cacos e cravei em seu olho. O bicho “morreu” com as mãos erguidas e os músculos rijos. Foi então que percebi uma característica incomum neles. Provavelmente em já havia percebido antes, mas só me dera conta agora. Quando uma pessoa morre, seus músculos endurecem, pois o sangue não mais corre, nem ela se movimenta. Se os músculos ficam rijos, como elas podem se movimentar? Questão aparentemente inexplicável.

    Sai da casa e vi que agora a rua começava a ter alguns deles. O barulho da aeronave e dos mísseis Napalm provavelmente atraiu-os. Esconder-me-ia ou ficaria no meio daquele inferno como um tolo? Enquanto me escondia, eu estudaria mais aquele lugar.

    Esgueirando pelas ruas para não atrair atenção, entrei numa das casas com a placa da cruz vermelha brilhante. Ali vi vários leitos de hospitais, com suporte para soros e vários remédios espalhados pelas camas, assim com um grande armário cheio de seringas e líquidos estranhos. Mas o nome não me falhava; eram remédios sim. Então, ali havia mini hospitais, pois cada casa cabia no mínimo 8 leitos. Havia ainda uma grande mesa com uma cadeira rolante, e uma gaveta. Abri a gaveta e achei uma única prancheta com uma folha em seu pregador. Era o diagrama dos hospitais e o nome dos pacientes. Nada de relevante até então, mas Alice poderia estar ferida. E também era um bebê, provavelmente estaria sob cuidados médicos.

    Sai dessa casa e entrei em outra, á poucos metros de distância. Para minha surpresa, haviam pessoas nesses leitos. Mas todas eram alimentadas na veia por um liquido arroxeado. Aproximei-me do plástico do soro e li um nome, em letras meio apagadas:

    “Hypnotic General Anesthetic”

    Era uma anestesia geral, visando amnésia. Não sabia se aqueles eram cobaias usadas em experimentos ou soldados, mas uma coisa era certa: eles não tinham qualquer tipo de ferimento. O líquido gotejava de pouco em pouco, menos de 5 gotas por segundo, caracterizando horas de inconsciência.

    Fui direto à mesa e abri a prancheta. Dessa vez encontrei um mapa mais organizado, sinalizando os hospitais. Procurei, procurei, procurei, até que encontrei um deles com uma anotação “bebês”. Meu coração fisgou e minha visão dilatou. Minha procura havia terminado.

    Essa seção que minha irmã supostamente se encontrava, estava á alguns quilômetros dali. Porém qualquer distância que ela estivesse, eu percorreria sem me cansar. Quanto mais longe, obviamente, eu ficava mais aflito. Procurei ali algo que me servisse como uma arma branca temporária e o que achei foi uma tesoura de enfermeiro bem longa e com a ponta curva. Com a lâmina aberta, qualquer cravada na cabeça de um zumbi e ele viria abaixo. A morte era certa com aquela ferramenta. Voltei á mesa da “recepção” e peguei a folha junto da prancheta, mantendo-a nela. Com a tesoura numa das mãos e a prancheta noutra, sai pelas ruas.

    O cheio do Napalm não era muito evidente ali no meio daquela mini cidade dentro de uma cidade maior ainda. O frescor do ar era ligeiramente doce, vindo das plantas que enfeitavam as ruas. Parecia-me mais como uma cidade bem civilizada, do que um quartel general de um grupo de assassinos que matavam inocentes e só buscavam o extermínio. Olhei para o céu: não passava de 9 horas da manhã. Meu caminho ainda seria longo até o hospital onde minha irmã estava.

    Andando pelo caminho, não encontrei vivalma, até que virei uma esquina e vi um daqueles cães. Não os cães vivos, os mortos mesmo. Pensei que seria mais fácil que antes, agora que estava confiante e feliz. Mas não; ele me empurrara assim como o outro que matei com a garrafa fez, em vez de me atacar primeiro. Provavelmente seu instinto era de ver a presa sofrer antes de aniquilá-la. E a tesoura caiu longe. O bicho já ia pular em cima de mim e me estraçalhar, quando dei um impulso pelos pés e comecei a me arrastar com os braços, quando o bicho caiu e ficou se debatendo, tive uma chance. Levantei-me rapidamente e peguei a tesoura. Porém, quando virei-me, deparei com outro deles. O som que o bicho caído exercia, encobriu o outro que se aproximava de mim. Ele agarrou meu braço, e quando pensei que era meu fim, um ato do meu subconsciente aconteceu. O bicho acabou travado no ar, com a boca em minha jaqueta. Arrepiei-me quando vi tal cena, para depois perceber que a curva da tesoura estava presa em baixo de seu queixo, no papado. O bicho não teve tempo de me morder. Ou teve? Tirei-o de minha blusa, mas o outro ainda se levantava. Outro ato que não pensei; quase instantaneamente arremessei a tesoura na cabeça dele, e a curvatura da faca ficou fincada na testa, mais á direita. Caiu morto.

    Antes de qualquer coisa, porém, Levantei a manga de minha blusa. O bicho não tinha feito um estrago considerável, mas o vermelhidão no local da mordida era claramente visto. Por sorte, seus dentes apenas tiveram tempo de serem pressionados contra minha carne, e não a perfurou. Se perfurassem, muito que provavelmente neste momento ou eu estaria sendo comido vivo, ou estaria pensando na minha vida toda e chorando de algumas coisas, esperando minha inevitável morte. Isso que eu chamo de tirar a sorte grande, nesse mundo novo. Antes de qualquer coisa, agradeci á Deus por ter cuidado de mim novamente.

    Voltei e apanhei minha prancheta, depois fui ao corpo do zumbi e peguei minha milagrosa cortadora. Havia ainda muito caminho á ser feito.

    Pelos meus cálculos, mais 30 minutos de caminhada e eu estaria á companhia de minha irmã novamente. A rua em que ela estava não era na rua em que eu estava, então teria de me localizar e entra na rua certa. Enquanto olhava a folha da prancheta distraidamente, outro zumbi apareceu. Corri e pulei em cima dele, colocando vigorosamente a tesoura em seu olho direito. Caiu. Mas quando vi a expressão daquela criatura que um dia já foi alguém, e o que eu fiz por ela... Não, aquele não era eu. Eu já havia matado alguns deles desde que tudo começou. Mas não porque queria, e sim porque eles eram meu empecilho. Que Deus me perdoe se fiz algo de errado.

    30 minutos depois...

    Muito que provavelmente é essa rua; a placa e o nome delas conferem. Diz aqui que é o 3º hospital á direita. E realmente, a rua era grande. Seria o 3º hospital no sentido que eu estava? Como eu não fazia a mínima ideia, comecei a procurar em todos os que haviam ali. Quando procurava no segundo hospital á esquerda, ouvi um ruído de motor. Alguém se aproximava, mas estava longe. Sai daquele e correndo agachado, rapidamente abri a porta do 4º hospital á direita. Além dele, naquela direção só haviam mais 2, então ou era aquele, ou era o da esquerda.

    Quando abri, senti minha mente dizer “não entre!”, mas meu coração dizia “sua irmã pode estar ai!”. Segui meu instinto protetor e entrei. Abrindo a porta, olhei para trás. Quando olhei de novo para frente, tive a mesma visão que tivera no dia do outro complexo, perto do parque. Uma pessoa que, com seu punho, batia em mim. Mas dessa vez o soco foi certeiro em minha têmpora, desmaiando-me na hora.

    10 minutos depois...

    - Ei garoto, acorda garoto, acorda! A gente precisa sair daqui logo cara!

    - O que? Hã? Ahhhh.... Ugh! – Acordei desnorteado sem entender o que se passava, e quando fui gritar, o homem abafou meu grito com uma mão. Era um homem com uma roupa de camuflagem de floresta, com uma máscara que cobria todo o rosto. Não sabia quem era.

    - Cala a boca, não grita! – Disse ele, retirando minha mão – Desculpa se te machuquei, mas pensei que você era um deles.

    - Quem é você afinal? – Indaguei.

    - Eu costumava ser um deles, até que vi uma coisa que não podia ter visto e eles me aprisionaram. Mas eu fugi para esse complexo tentando escapar. Até que me meti numa enrascada maior ainda. E eu não tenho armas. Você tem?

    - Não, só aquela tesoura.

    - Bom, bom. A gente pode usá-la. Mas me diz garoto, o que você faz aqui no meio dessa loucura.

    - Estou procurando minha irmã, acho que faz 1 ou 2 dias que roubaram ela, não me lembro. E vi o diagrama de bebês naquela prancheta, e dizia que era esse hospital. Ela se chama Alice.

    - Essa aqui? – Ajudando-me a levantar com a mão, me mostrou uma incubadora. Pude ver o nome dela impresso em uma fita, escrita á caneta esferográfica. Eu não podia gritar, nem fazer ruído, mas uma lágrima de felicidade e um sorriso surgiu em mim. Correndo para a máquina, abri a tampa e dali retirei minha irmã. Acho que não tinham tempo para cuidar dela, então deixaram-na ali.

    - Eles alimentam bem os bebês, fique despreocupado. Fico feliz que você tenha encontrado ela. Agora, você precisa sair daqui, mas antes precisa de alguma comida. Para você e ela. Me de sua mochila, que eu volto logo.

    - Mas eu já tenho comida cara, a bolsa está cheia de comida de uma lanchonete que eu arrombei.

    - E isso é comida de gente? Vou te arrumar coisa melhor. Vê? Os ruídos já passaram, então provavelmente eles também já se foram. Ou não. Mas já volto, fique ai cuidando de sua irmã.

    Obedeci a ordem do homem que parecia não brincar em serviço. 15 minutos depois e ele voltou com a mochila e um outro papel em mãos.

    - Bom, vamos lá. Para você eu peguei coisas como enlatados, queijos, carnes, pães... Essas coisas que na “nossa” idade, ou nós comemos ou morremos. Em grande quantidade. Mas reservei uma parte maior para sua irmã. Peguei tudo que pode ser útil para ela, embora o melhor que poderia ser feito ela leite materno. Algumas vitaminas em cápsula que você pode esmagar para virar um farelo e dissolver em água, para dá-la de pouco em pouco. Alguns iogurtes naturais sem açúcar, leite em pó especial para crianças e muita água mineral. O seu é a parte de baixo, e o dela é a parte de cima.

    - Cara, eu não sei como agradecer!

    - Está tudo bem, era meu trabalho mesmo. Eu fui do exército. Aliás garoto, você sabe dirigir?

    - Sim, meu pai me ensinou e eu já tenho habilitação, mas está em casa.

    - Perfeito. Olhe outra coisa que eu achei. Na verdade, duas: Os filhos da mãe ainda estão soltos por ai a fora, provavelmente em uma dessas casas. Mas eles deixaram um carro, meio veloz, vamos assim dizer, parado com a chave no contato e ligado.

    Então achei um mapa numa daquelas casas que eles guardam armas e com uma caneta que achei naquela mesa ali da recepção, marquei o lugar onde eu quero que você vá. Olhe aqui: primeiro pega essa rua, depois vira para cá, ai segue reto e na rua Dwight você vira á esquerda, depois... – E continuou a me explicar – Então, você estará na última rua. Essa é a entrada que não foi destruída pelo caça. As paredes são fracas, então só acelere. Essa rua dá de frente para a entrada da cidade. Tem uma guarita ali, com uma cancela, mas o carro é rápido, você arranca fácil. Entendeu bem? O mapa está aqui para te guiar melhor.

    Preparava-me para ir embora quando fui impedido pela sua mão, que agarrou meu braço:

    - Uma coisa antes de ir, Nikolai. Tudo depende de seu ponto de vista. Tente entender melhor as coisas antes de fazer seu julgamento. Agora vá, não é seguro aqui.

    - Como sabe meu nome?

    - Há mais coisas no céu e na terra do que a nossa filosofia poderia interpretar. Um dia você entenderá.

    - Não vem comigo?

    - Não, tenho umas coisas para fazer ainda.

    Sai pela porta da frente cautelosamente e avistei o carro que disse. Era o Lamborghini Aventador do líder. Era sim, um veloz.

    - Obrigado – Disse mais uma vez antes de ir – Pode ao menos me dizer seu nome?
    Com um sorriso no canto da boca, o estranho respondeu:

    - Cole. Allen Cole.

    A princípio não percebi o nome, mas quando me dei conta, fiz um olhar de quem estava surpreso. Quando me virei novamente, não havia ninguém ali. Sorri de volta para o nada e com Alice nos braços, corri para o carro. Abri a porta rapidamente e quando menos pude perceber, estava rodando com aquela máquina poderosa, com Alice no carona. Já estava á uns bons metros de distância quando pude ver a gangue sair de uma das casa e olhar com um ar de espantados. Olhei pelo retrovisor e ainda tentaram atirar em mim, mas o líder deles abaixou a arma do capanga.

    Segui as ordens que haviam sido ordenadas no mapa, e dentro de alguns minutos, me vi fora do complexo. A rua era grande, então acelerei o máximo que pude. Segundos depois, a cancela estava quebrada, e eu fora daquele inferno. Eu não estava na interestadual, e sim em uma rodovia secundária. Seria até melhor não se encontrar com uma horda. Segui meu caminho aproveitando o carro por alguns minutos, deixando toda a mágoa sair de dentro de mim, e olhando para os olhos de minha irmã, estava certo de que não falharia mais.

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    Capítulo 14 - Cidade Morta

    Enquanto ia passando pela rodovia secundará, sentia o carro por completo pela primeira vez. A rodovia era reta, parecendo a Autobahn. Consegui colocar até 150 km/h naquela supermáquina, até que lembrei que eu tinha de ser responsável e cuidar de minha irmã. Parei o carro no acostamento para ver o mapa. Minha sorte é que aquela rodovia não era frequentada drasticamente, logo haviam poucos carros capotados ou parados. Qual seria meu plano agora, e para onde iria? Tentar outro centro de refugiados... Não, poderia ficar encurralado como em Seattle. Voltaria para casa? Era a melhor opção. Localizei Tacoma no mapa. Estava á 40 quilômetros do começo da cidade, e alguns outros para minha casa. A rodovia que eu estava não dava acesso direto para lá, mas havia uma entrada para a interestadual que fazia entrada com outra rodovia secundária que daria de cara com a rua da minha casa. Essa rodovia era aquela que peguei no dia em que tudo começou. Esse era meu plano. Dizem sempre que “o bom filho, a casa torna”.

    Parei por um instante para fazer um lanchinho antes de ir. Abri a mochila e peguei um pedaço de um vigoroso presunto. Surpreendentemente achei também em minha mochila, numa pequena caixa de plástico, talheres. Abri a caixa e ali peguei um garfo e uma faca. Cortei um belo pedaço dele e comi rapidamente, pois não queria sair dali de noite, embora fosse não mais que 2 horas da tarde. O dia estava nublado e escureceria mais rapidamente.

    Depois que acabei minha refeição, tomei um pouco de um suco de maracujá e lembrei de Alice. Peguei um pouco daquele iogurte e com outra colherinha pequena que encontrei na caixa, fui despejando de pouco em pouco em sua boca. Estava com fome, e muita! Depois dei-lhe um pouco de leite mas sem o pó, pois não daria para dissolvê-lo, e com uma colher esfarelei uma das pílulas vitamínicas e coloquei na água. De novo, de pouco em pouco, despejei. Quando a refeição acabou, guardei tudo na mochila e entrei no carro. Sai dali o mais rápido possível.

    Estava eu andando pela estrada, quando me deu uma baita vontade de urinar. E era aquela incondicional, que ou você obedece ou acaba se molhando inteiro. Parei no acostamento mais uma vez e fui para detrás do carro. A rodovia, como todas ali naquela região, era coberta de vegetação dos 2 lados. Fui um pouco para dentro dele e comecei a fazer minhas necessidades. Quando estava terminando, ouvi um galho se quebrando em minha frente, não muito longe. Detrás de uma árvore, um daqueles mordedores infernais saia para me atacar. Rapidamente fechei o zíper da calça e corri de volta para o carro. Com os vidros fechados, era impossível o mesmo me pegar ali. Para falar a verdade, tive até um pouco de prazer em vê-lo tentando entrar lá e não conseguindo. Por fim, dei partida no carro e acelerei. Olhei pelo retrovisor e vi o descerebrado cambaleando, e após isso, caindo. Não contive uma risada naquela cena. Pelo menos eu estava bem humorado naquele inferno.

    O Aventador era um carro realmente rápido. Em menos de 15 minutos eu já estava a porta da rodovia interestadual. Logo na entrada, haviam carros e mais carros entulhados e capotados. Fazendo algumas manobras evasivas, sai dali o mais rápido possível. Quanto mais tempo naquela autoestrada, mais risco eu correria.

    Logo de inicio, eu já estava muito confuso. Era aquele o caminho certo? Ou estava no sentido errado? Orientei-me pelo mapa e vi que quase peguei a direção errada e logo voltaria para Seattle em vão. Dei meia volta e comecei a andar lentamente dentre os carros destroçados. Na pista, mais e mais sangue, e algumas pessoas mortas. Então, foi quando vi que fiquei encurralado. Haviam carros capotados por toda a pista, e especialmente onde seria a minha única passagem, havia um carro transpassado ali. Parei a Aventador e me concentrei por alguns segundos. Qualquer barulho era ausente naquele ambiente. Mordedores, então, adeus.

    Comecei a empurrar a lataria do carro pelo capô. Admito que foi meio difícil de tirar o mesmo dali, porque dentro havia ocupantes; mortos, claro. E ele era gordo, então meu trabalho era seriamente dificultado. Depois de algum tempo, tirei o carro da posição para que a Aventador passasse. Quando entrei no carro e passei por ali, ainda ouvi o barulho de lataria sendo riscada. Uma pena, pois um carro como aqueles era caro e não deveria ser desperdiçado.

    A viagem continuou longa, porém confortável no banco de couro daquela máquina. Ora ou outra eu tinha de parar para remover algum obstáculo, ou carro. Mas para minha sorte, hordas de zumbis não estavam presentes. Estava no final da rodovia, quando avistei aquela casa que muito anteriormente, eu estava hospedado e que fora atingida por um granada. Não passou nada na minha cabeça, mas quando cheguei mais perto dela e passei, lembrei-me de minha bíblia e da imagem de cristo crucificado. Parei a Aventador e desci, correndo desesperadamente. Subi as escadas que continuavam do mesmo jeito de sempre e voltei ao quarto. Para minha surpresa, os objetos ainda estavam ali. Peguei a bíblia e tasquei um beijo em sua capa, assim como na imagem de cristo. Agradeci por Deus cuidar de mim e também correndo com eles nas mãos, voltei ao carro.

    Estava mais perto da rodovia que daria acesso para minha casa, e para falar a verdade, eu pensei que duraria mais. Então, numa curva fechada, olhei para frente e subitamente vi uma horda. Não havia tempo de parar e dar meia volta para esperar ela passar. A Aventador era potente, e a horda era longa e estava ainda longe; engatei a 1ª, a 2ª, a 3ª... quando vi, estava na 5ª marcha á 120 km/h e a horda bem em minha frente! Agora era vida ou morte; ou atropelaria aquelas milhares de coisas, ou capotaria, ou ficaria preso. Mas dei sorte e continuei no mundo; a Aventador enquanto passava por cima de uns, jogava os outros para o alto. Acabou que ela ficou toda suja de sangue no vidro e nas portas, e amassada no capô, mas eu estava vivo.
    Era tudo que importava. 12 minutos depois e eu estava á porta da rodovia secundária.

    Quando atravessei a mesma, tive uma surpresa. Ou o mapa estava errado, ou eu entrei no lugar errado. Aquela não era a rodovia que daria acesso direto para minha casa. Parei outra vez no acostamento e chequei o mapa. Sim, eu errara. Mas ainda me localizei melhor e vi que essa rodovia ainda daria acesso á Tacoma, porém na outra ponta da cidade, á 7 quilômetros de minha casa.

    Não havia tempo para dar meia volta e pegar de novo a interestadual e assim entrar na rodovia certa. E meu carro era rápido, então acho que me sairia bem. Continuei pela rodovia por no máximo 2 minutos até que vi uma placa, com uma seta para a diagonal esquerda, escrito “Tacoma”. Entrei pela saída para minha cidade e mais alguns minutos, vi que realmente estava longe de minha casa. Passando pelas ruas, vi vários errantes como todos os outros, lojas com portas abertas, vidros quebrados, com sangue no asfalto. Sussurrei para mim mesmo:

    - Então esta é a cidade morta. Bem vindo ao lar, Nikolai.

    E realmente, Tacoma estava morta. O centro estava infestado e a medida que passava, tinha de desviar de alguns mordedores ou entrar noutra rua, pois alguma estava bloqueada por carros ou por monstros mesmo. Enquanto passeava pelas ruas, lembrar-me-ia de tudo que havia passado naqueles lugares. Parques de diversão, shoppings, cinemas... Memórias boas, como os primeiros dias de namoro com Natalie, em que fomos ao cinema, só nós 2, na última fileira, no escuro do cinema, na calada da noite. Fazendo todas as confissões amorosas enquanto víamos uma reprise do clássico Casablanca. Outra, como quando eu, John e o resto do time fomos jogar um amistoso no campo de futebol “society” contra o time daqueles bastardos que estudavam perto de nossa escola. Mostramos o que eles mereciam e fizemos 9 á 2 neles, com 3 gols meus, 4 de John, 1 de Lewis e 1 de Frank. Ainda ruins, como o dia em que saindo de um museu, presenciei um acidente horripilante.

    Podem ser memórias boas ou ruins, mas são memórias. E o que são memórias? Memórias são um poço escuro, um poço sem fundo. Onde todos se lembram de coisas que nunca mais acontecerão e que de alguma forma, lhes foi passado uma mensagem boa. Memórias, agora, eram o meu refúgio para não enlouquecer.
    Acabei que tive a ideia de ficar passeando pela cidade. Mas passeando por uma cidade infestada daquelas coisas horrendas? Tinha de verificar como estavam as coisas ou até mesmo encontrar sobreviventes. Fui indo em direção á minha escola.

    Quando cheguei, ela estava na mesma cena de todas as outras construções dali. Portas estouradas, com o lixo tomando conta de tudo. A escola era mais afastada da cidade e não haviam muitos zumbis ali. Parei a Aventador no estacionamento da escola que era protegido por uma grade e tranquei o carro. Corri para dentro da escola e bem no corredor principal tentei perceber qualquer grunhido de zumbis, ou vozes de sobreviventes. Não havia sequer um sibilo do vento forte que soprava fora do prédio. Comecei a entrar nas salas. Muitas estavam vazias, com as carteiras no lugar e como se estivessem preparadas para outro dia normal. Foi na sala da diretoria que encontrei uma surpresa. A diretora da escola, a senhora Lucy Winters, estava estirada sobre a cadeira com um buraco na cabeça. Tive uma surpresa, logo minha visão dilatou e meu coração bateu mais forte. Cheguei perto dela e tentei acordá-la de qualquer sono pesado que estava tendo. Mas não, ela estava morta. Havia ainda um bilhete sobre a mesa, que falava:

    “Não tenho filhos, não tenho pais, não tenho casa, não tenho vida. Meus amigos são meus queridos alunos. Se aqui que morro, aqui devo permanecer, para sempre. Que eles tenham uma vida melhor que a minha.”

    Amorosa como sempre, a diretora de minha escola se suicidara, mas sempre com pensamentos amistosos e otimistas. Eu, porém, nunca percebi que era tão sozinha. Sai da sala da diretoria e voltei ao corredor.

    As demais salas não continham surpresas, exceto a 3ª sala á direita que continha dois mordedores caídos, mortos. Até que entrei na 5ª sala á esquerda e ali sim, quase deixei este mundo para um pior. E para falar a verdade, senti pena de tudo que vi. Crianças sentadas nas cadeiras como se fosse outro dia de aula, assim como um professor em sua mesa com um caderno em mãos. Na lousa, estava algumas palavras incompletas para as pobrezinhas completarem e um desenho mal feito em cima, para se orientarem. As palavras eram de fácil arbítrio, como: _vião; _belha; _arro;_omem, etc.

    Mas o que me doeu mais, é que o ruído da porta se abrindo fez com que elas, com as cabecinhas abaixadas, levantassem as mesmas e me olhassem com um olhar de terrorista. O professor fez o mesmo gesto. Não, não estavam vivas e desnutridas. Estavam todas zumbificadas. E quando digo todas, era mesmo a classe inteira. Fechei a porta rapidamente, a tempo de nem o ocupante da primeira carteira me alcançar. Mas não a tempo de não ouvir baques e mais baques na porta. E assim, outras portas trancadas tiveram o mesmo efeito. A escola estava infestada de zumbis-crianças.
    Sai dali e corri para a Aventador. Tranquei o carro e liguei-o, dei a partida e sai dali.

    Enquanto dirigia, chorei baixinho para não despertar Alice que estava em um profundo sono. Se os homens mereciam aquilo, eles mereciam. Nunca se renderiam naquela guerra que parecia sem fim. Mas se eles se renderiam ou não, era problema deles; suas crianças não tinham nada a ver com isso, logo deveriam ser poupadas. Mas não era o que estava acontecendo.

    Depois de alguns minutos a mais rodando com o carro, me orientei pelas casas e vi que estava á 2 ruas de minha casa. Até que me lembrei vagamente daquele grupo de mercenários que matavam inocentes por nada ou mantinham em cárcere. A Aventador era de um dos líderes daquele grupo, então se eles avistassem o carro seria inevitável que me achassem. Assim, achei uma garagem aberta de uma casa e coloquei o carro ali dentro, com a porta aberta e a chave no porta-luvas do carro. Peguei Alice no colo e com a mochila, sai correndo pelas ruas.

    Havia zumbis nas ruas, mas os mesmos não tinham a velocidade necessária para me alcançarem. Poucos minutos depois, já estava a porta de minha casa, que estava do mesmo jeito que antes. Entrei e para minha sorte, a chave do mesmo jeito na tranca. Tranquei a casa e internamente, estava intacta do mesmo jeito. Era uma baita sorte ela não ter sido saqueada. Eu, porém, exausto. Não faria mais nada naquele dia. Coloquei a bolsa sobre a mesa de centro da sala e subi para os quartos. Fui com Alice para o banheiro e com a água corrente da pia que estava fraquíssima, tratei de limpá-la e colocar nova fralda e roupa, assim como talco. Coloquei-a no berço e voltei ao banheiro. Despi-me e abri o chuveiro. A água, assim como da torneira, era fraca. Mas tomei um bom e longo banho, depois me troquei e joguei-me na cama, de onde só despertaria no outro dia. Nela, tive os melhores sonhos, onde tudo daria certo e eu reencontraria Natalie.

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    Capítulo 15 - Recomeço

    Acordei realmente “quebrado”. Depois de alguns dias de viagem incansável, as fugas contra aquele grupo de loucos, o cárcere no metro, a perda de minha irmã... Só queria descansar um pouco. Meus ossos doíam, meus músculos se retorciam a medida que eu me enrolava mais no cobertor. Abrindo a cortina para espiar um pouco na rua com cuidado, pude ver a cidade morta. Não havia mais pessoas naquele ambiente. Apenas monstros horríveis sem rumo. Aqueles que devoravam incansavelmente e que sua fome não saciava. Afinal, de quantos humanos inteiros se precisava para um deles parar de atacá-los por um bom tempo?

    Os cobertores me deram uma espécie de proteção, embora a casa tivesse apenas uma tranca. Na verdade, pensei que ali dentro nada poderia me atingir. Um raio de sol saindo da janela e refletindo no espelho deixava o ambiente ainda mais quente e aconchegante. Dali não queria sair, nunca mais...

    Até que minha irmã começa a chorar. Droga. Provavelmente estava com fome. Sai dos cobertores e rapidamente fechei a cortina. Não queria ser visto do lado de fora. Dirigi-me ao banheiro e ao abrir a torneira, uma surpresa. Não mais corria água. Então, há alguns dias sem energia e agora sem água? Bom, aquele então seria o fim dos recursos fáceis. A partir de agora, era ferver e filtrar a água a todo instante. Banho, só em casos extremos.

    Agora que eu fui reparar melhor no quarto, quando já estava acordado. O meu telescópio ainda estava apontado para fora da janela. A mala que minha mãe preparou ainda estava dentro do armário, assim como a comida que ela deixou guardada. Então, acho que nesse meio tempo que me ausentei da casa, ninguém a invadiu.

    Aquela situação me deixou enervado, embora previsível. Sai de meu quarto e fui em direção ao dela. Peguei-a pelo colo e cantei uma canção. Logo, se acalmou, mas não por muito instante. Outra coisa que eu deveria planejar: Algum modo de silenciá-la, mas que eu pudesse ouvir quando chorasse. O choro atrapalharia minha vida; na verdade eram os mordedores, mas o barulho emitido era bem pior. Pensaria mais tarde.

    Coloquei-a de volta no berço e fui preparar tal “café da manhã” para ela. Allen tinha me ajudado e pegou uma bolsa cheia de comida. Allen mesmo? Será que ele não havia morrido? Não, era improvável. Para falar a verdade, agora sentia aquela alma como um protetor e um conselheiro. Eu, que antes não gostava de igreja, vejo que agora existe sim, muito mais coisa no céu e na terra do que a nossa filosofia pensa; a bolsa não havia sumido.

    Com um pouco do leite, esquentei no mesmo processo usando o sol. Depois de morno, coloquei na mamadeira e trouxe-a para baixo. Comecei a dar tal mistura de gordura líquida devagar, pois não queria provocar um engasgue. Depois que ela tomou metade do líquido, vi que não queria mais e tirei sua boca do bico da mamadeira. Havia 9 caixas da vitamina, com 10 cápsulas cada uma. Daria para 80 dias, então. 3 meses. Até lá, ela conseguiria se alimentar de qualquer outra coisa?
    Peguei uma delas e abri com as mãos. Nessa parte eu tinha de tomar muito cuidado.

    Com água que encontrei na geladeira desativada de minha casa, lavei bem as mãos com sabão. Peguei uma colher de madeira que minha mãe usava para fazer ovos mexidos e com isso, esmaguei a cápsula, reduzindo-a á praticamente nada. Joguei o pó dentro do copo com água e deixei efervescer. Quando a reação química parou, despejei o pó na água formando tal mistura homogênea que eu desejava. Com um conta-gotas que achei na gaveta de remédios de meu falecido pai, fui despejando pouco a pouco. Depois de alguns minutos, ela tinha tomado tudo. O iogurte, deixei guardado para outros casos. Agora cuidaria de mim.

    Para o meu café, comi um enlatado de sardinha que venceria daqui á 2 semanas e algumas fatias de uma bandeja de frios. Os perecíveis eu consumiria logo, pois estragariam rápido. A geladeira estava sem energia, porém o freezer ainda continuava em “funcionamento natural” devido á sua isolação térmica. Coloquei os alimentos que estragariam ali. Depois, fui cuidar da minha vida. Mas antes, a primeira coisa que tratei de fazer foi colocar a bíblia e a imagem de Jesus Cristo de volta em seu devido lugar. Ali, oraria todas as noites.

    Se pensarem que naturalmente eu abriria janelas e portas, se enganaram. Na verdade, o que eu queria era selá-las. Por quê? Quanto menos visão de fora, mais protegido eu estava. Desci ao porão e tentei encontrar qualquer coisa que me servisse. Acabei encontrando algumas ferramentas de meu pai. Um serrote, martelos, porcas, pregos, pinos, etc. Algumas estantes grossas completavam o inventário. Haviam 4 estantes na sala. Decidi quebrar uma com o martelo para fazer barricadas. A estante era de uma madeira grossa. Nem sequer chutes e pontapés de pessoas lucidas poderiam derrubar tais madeiras.

    Comecei a fazer tal processo. Peguei o serrote e comecei a cortar as madeiras da já quebrada estante. Medi as principais portas e janelas, primeiro, e então as separei em vários pedaços. As prateleiras ficariam para as portas; os suportes laterais seriam para as janelas, que eram mais finos. Meu plano era também de cobrir tais janelas para nenhuma luz interior escapar do meu refúgio.

    Acabei com um total de 16 madeiras para portas e 8 para janelas. Havia uma porta principal, a da entrada, a porta da garagem, a porta dos fundos e a porta da cozinha que dava acesso ao quintal traseiro... Tudo bem, 4 madeiras grossas daquela serviriam para segurar qualquer ato contra mim. Mas por onde sairia? Pensei melhor e em vez de colocar tais madeiras na porta frontal, faria um sistema de tranca rápida com uma barricada de espinhos de madeira na porta, além de, claro, arames e cordas para qualquer intruso cair.

    Comecei o meu serviço pela porta dos fundos. Peguei uma das madeiras e com 2 pregos e o precioso martelo, preguei uma extremidade entre as duas paredes. Fiz a mesma coisa com a outra extremidade. Fui fazendo a mesma coisa, e para falar verdade, não me cansei. Até me alegrava, ocupando-me com qualquer coisa, que não verdade não era qualquer coisa. Aquilo zelava minha segurança. Com a outra madeira, preguei-a do mesmo jeito, e assim fui... Quando o resultado estava pronto, sai calmamente pela porta da cozinha. Felizmente não havia mordedores no meu quintal. Fui andando devagar, com muito cautela, em direção á tal porta. Quando cheguei na frente da mesma, dei três pontapés e alguns socos contra a porta, que era totalmente de madeira, sem nenhum pequena janela. A porta nem sequer se deformou para dentro. Ela vibrou, vibrou e vibrou. Mas nada de quebrar. Fiquei orgulhoso de meu trabalho. Agora partiria para as outras.

    Com o mesmo ato, fiz o mesmo processo várias vezes e no final obtive um resultado satisfatório. Satisfatório não, mais que isso. Estava orgulhoso. Nenhum zumbi entraria em minha casa, com certeza.

    Trataria agora de ajeitar a luminosidade da casa. A casa já estava escura, a essas alturas sem uma alimentação á eletricidade para abastecer as lâmpadas. Agora, então, a escuridão tomaria conta de tudo. Tinha de vedar a casa contra a luminosidade inteira, e para tanto decidi usar alguns lençóis e cobertores grossos.

    Separei os melhores cobertores para uso pessoal e para uso de minha irmã. Eu era um cara esperançoso, então separei mais uns 3 lençóis e 2 cobertores de casal para alguém que eu encontrasse vivo, se é que encontraria. Dizem que a esperança é a última que morre. Para mim, acho que ela nunca morreria. Mas eu não poderia estar condenado á viver naquela situação para sempre. Privado de murmurar qualquer palavra para algo que me entendesse; e compreendesse. Acho que a partir daquele momento de reflexão, meu objetivo principal era procurar sobreviventes.

    Os outros lençóis eu deixei guardados no armário. Eu tinha separado mais de 12 dos mesmos, e 7 cobertores. Melhor isolamento visual era impossível. Então, tratei de fazer isso o mais rápido possível.

    Com os mesmos tipos de pregos, comecei a pregar os isoladores nas janelas. Lá fora, pude ver alguns descerebrados, caminhando sem rumo em busca de comida. Com o barulho das marteladas, eles olhavam em direção á minha casa. Cada olhada que os mesmos davam, eu me repreendia. Mas não, eles não podiam identificar o que era. Na verdade, acho que seus sentidos não ficavam aguçados e sim reduzidos, exceto o paladar. Ou talvez, até o paladar. Afinal, para se alimentar não é necessário sentir o gosto.

    Os lençóis eram grandes, então decidi fazer uma espécie de observatório rápido. Pregaria apenas 1 prego na vertical do lençol para que pudesse afastá-lo um pouco e espiar ali fora, enquanto na horizontal, ficariam dispostos 4 pregos: 2 nas pontas, e 2 no meio.

    Acabou que a minha invenção deu certo, e com uma camada de cobertor que cobria duas janelas se estivessem próximas uma da outra... A isolação visual ficou perfeita! Agora observar mesmo só em cima da casa. Trataria de montar algo que me servisse como auxilio ao telescópio, pois uma janela aberta o tempo inteiro, além do mais a janela do meu quarto; era um grande problema.

    O processo mais uma vez foi repetido em quase todas as janelas da casa. Decidi, porém, preservar as janelas da cozinha abertas. Todo dia quando acordasse, preferia ver o sol mais uma vez, não uma escuridão total. Sentir o confortável mormaço que os raios davam na pele. E ali, tomar um café quente.

    Agora que a casa estava devidamente protegida, trataria de arranjar algo que me servisse de observatório. Aconteceu que ao invés de privar o meu quarto da clareza provida da quente e ardente bola de gás e metal fundido, simplesmente encontrei uma posição na cortina que deixava o diafragma da lente do telescópio transpassar a mesma. E a visão, além de privilegiada, me dava quase 360° de vista do quarteirão e ainda um pouco de vista do centro. Estava perfeito para investigar qualquer ato suspeito ou barulho estranho.

    Tudo bem, até agora. Eu achava que estava tudo perfeito. Até que descobri que a porta, embora com uma barricada, estava vulnerável aos ataques e baques. Lembrei que meu pai guardava uma cerca que se dobrava... Como? Era parecida com aquelas persianas de madeira. Estranhas, mas naquela ocasião me serviriam bem. Desci ao porão e fiquei procurando a mesma. No final, encontrei, porém ainda achei outros itens. Um deles inusitado? Duas caixas de munição para pistolas .45 ACP. Meu pai não tinha armas em casa, isso era óbvio. Então porque ele guardava uma caixa de projéteis? Estranho...

    Antes de ir montar a cerca, porém, vi como a mesma funcionava. Era o mesmo funcionamento de uma persiana, como já havia dito. Apenas fincava-se uma das partes num gramado ou terra, arado ou qualquer solo “mole”, e dali se arrastava até o ponto desejado. Na outra extremidade, fincava-se da mesma maneira e depois se acionava outro botão e uma haste de ferro sairia da ponta de madeira fincada no chão formando um “Y” na terra, para maior resistência contra impactos. Para tirar o Y, deveria apertar outro botão. Este, porém, era um controle remoto de um botão apenas, pequeno, que tinha esse objetivo, para evitar que pessoas sem autorização tirassem a cerca do caminho, afinal, era uma cerca para se usar em fazendas. Achei tudo isso no manual que meu pai guardava junto com a mesma. Para mim, estava perfeita para a ocasião.

    Rapidamente fui para fora da casa e dali finquei uma das extremidades. Perfeita. Um zumbi, no entanto, tinha me visto. Estava agora, vindo com seus músculos rijos, para cima de mim. Rapidamente peguei a outra extremidade da cerca e fui arrastando por todo o gramado. Correndo com ela em mãos, já que eu não tinha defesa alguma, tentei fazer o processo o mais rápido que podia. No final, finquei a outra extremidade e o zumbi já estava na calçada. Rapidamente apertei o botão e ouvi um “click” no chão. No “click”, o zumbi veio e me empurrou para trás, fazendo-me cair instantaneamente. A cerca, porém resistiu. Via com prazer os esforços daquele cão infernal de tentar atravessar minha barreira, sem sucesso. Sai dali e entrei para casa. Voltei com um pedaço bem pontudo de um dos pés da estante. Chegando perto do morto, empurrei a estaca sobre seu olho, fazendo-o cair na hora. Joguei a estaca fora e sai dali. Voltei para casa, sabendo que havia ainda muitas coisas para fazer.

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    Capítulo 16 - Antepassado

    Já dentro de casa, tentaria agora planejar um meio de acordar sempre todo dia as 8 horas da manhã, assim eu não me sentiria cansado ao longo do ano, isto é, se eu sobrevivesse pra vivê-lo, e acho que logo me acostumaria. Para tanto, tentei improvisar qualquer despertador em meu quarto. Relógios ou alarmes sonoros, além de perigosos, eram inviáveis. Na verdade não eram muito inviáveis, se Alice contasse como um alarme natural, mas não havia mais energia e eu havia perdido meu celular. A solução foi cortar uma parte da cortina de modo que todo dia alguns raios de sol batessem diretamente em meu olho. Não foi difícil; cortei a cortina com a minha tesoura de escola mesmo. Era afiada e com ponta, deu contra do trabalho facilmente e rapidamente.

    Decidi agora organizar a casa. Não estava suja nem desorganizada, mas meus mantimentos e roupas, além de uma mochila de emergência precisavam ser organizados. Os móveis, eu decidira manter no mesmo lugar; daria um ar mais humano ao recém mundo pós apocalíptico.

    Subi para meu quarto e ali, peguei as malas que minha mãe deixara com roupas e mantimentos. Para falar verdade, não mexi na mala com as roupas, pois além de eu ter muitas já guardadas no armário, as da mala estavam perfeitamente dobradas e enroladas. Um bom esconderijo que eu achei foi de baixo do sofá. O mesmo era coberto por uma capa de pano, de fino linho que parecia seda, que minha mãe gostava de usar em todos eles. Além de deixar a mala invisível, dava um acesso fácil á mesma em caso de emergência.

    Já a mala com comida, bom, você sabe. Metade dela já tinha estragado por conta do mormaço e do baixo oxigênio circulando ali. Salvei apenas biscoitos e alimentos não-perecíveis. Todo o resto que precisava de refrigeração, mas poderia ficar alguns dias ou semanas fora da geladeira, como carne e queijo, eu perdi. Para falar verdade, mais da metade da mala foi para o lixo. E como não passaria mais lixeiro e eu também não poderia sempre sair para colocar o lixo para fora, como se o mundo ainda existisse, decidi colocar essa comida estragada num saco preto e jogá-la no porão.

    A mala de emergência alimentícia, eu enchi apenas de alimentos não-perecíveis. E, com relação á água, eu enchi algumas garrafas de 600 ml e coloquei dentro da mala, e ainda deixei atrás do sofá um galão de 5 litros de água que eu carregaria em uma das mãos até um veículo. Os alimentos que eu não perdi, mas sobrecarregariam a mala, guardei junto com os mantimentos normais que ficariam na casa, para uso no dia-a-dia.

    Pensei também que precisaria de alguma coisa para fazer fogo, e fósforos não seriam o bastante. Além de que a Aventador estava longe, e uma corrida com aquelas malas e galão seria difícil, até mesmo com risco. Então, eu precisaria sair.

    Primeiro fiz um roteiro: A mercearia provavelmente estaria totalmente saqueada, então procuraria maiores fontes de mantimentos. Um supermercado no centro grande? Não, estaria infestado. Shopping Centers também eram inviáveis. Lembrei-me de onde eu e minha mãe fazíamos compra quase toda quinta-feira. Havia um mercado, não muito grande e também não uma mercearia não muito longe de casa. Era mais perto que os mercados do centro, além de menos frequentado. Mas ali teria tudo que eu precisaria. Com a Aventador, ficaria no máximo á 8 minutos dali.

    O mercado se situava num bairro perto do centro, mas que era pouco populoso por ser mais um bairro industrial. Haviam poucas ruas com pessoas morando ali. O resto era tomado por grandes fábricas têxteis, então acho que não haveria muitos zumbis ali.

    Uma arma agora naquele caso era essencial; infelizmente a única que eu dispunha era meu taco de baseball dos campeonatos regionais. Eu era rebatedor então sabia como manuseá-lo e como bater, literalmente, em um alvo com uma esplêndida força. Mas mesmo com essa força e habilidade, sendo a única que eu tinha, eu ainda era humano. Uma pequena horda de 3 zumbis já era um bom risco de por tudo por água-á-baixo e abandonar minha irmã. Então qualquer combate aberto eu evitaria.

    Com a Aventador, quando chegasse ao mercado, daria ré e deixaria na posição para dar partida. Não queria perder meu tempo fazendo manobras, o que poderia me deixar travado para sempre com um bando de mordedores sobre o meu para-brisa.
    Mas eu também tinha de arranjar uma forma de carregar tudo que eu pegaria no mercado. Para tanto, decidi pegar uma mochila velha e grande que eu havia usado 2 anos atrás na escola. Ajustei a alça para o tamanho dos meus braços que haviam mudado por conta de meu crescimento e deixei-a vazia. Tinha bons bolsos, além de até um lugar para guardar notebook, que era espaçoso. Estava perfeita.

    Abri a porta frontal da casa, despedi-me fazendo o sinal da cruz no peito. Tranquei a porta e guardei no bolso direito da minha calça. Pulei a cerca, em vez de abri-la e corri para a Aventador. Haviam no máximo 4 zumbis na rua, então eu estava bem. O carro estava um pouco longe da minha casa, mas fiz o percurso num tempo bom. Na casa onde estava guardada não havia nenhum errante. Entrei no carro e dei a partida. Em poucos segundos eu já estava em meu caminho.

    Passando por algumas ruas alternativas pois era preferível me vez de passar pelo centro grande, em 5 minutos numa velocidade média de 90 km/h, cheguei ao mercado. Para minha sorte, fiz o percurso o mais rápido do que eu esperava, embora os meus pais fizessem em 10 á 13 minutos, mas claro, com o carro deles. Quando vi a placa “Blue Skies Market”, senti um medo por chegar num lugar frequentado. Não era muito como os mercados dos outros bairros, mas mesmo assim todo cuidado era pouco. Mas me aliviei quando olhei pelas janelas do mesmo. Ali, tive visão de apenas dois zumbis andando entre os corredores.

    Dei ré na Aventador e deixei-a numa posição preferível á uma arrancada rápida. Desci do carro e rumei em direção ás portas do comércio. Estavam entreabertas, sem trancas, o que me deu uma vantagem. Já dentro percebi que ele estava levemente saqueado como todos os outros comércios do bairro. Mas não fiquei observando coisas fúteis; fui direto para meu objetivo.

    Logo nos primeiros passos, um zumbi me detectou e foi em minha direção. Preparei meu taco e deixei-o ficar um pouco mais perto. Quando estava á 3 passos de distância de mim, preparei e dei a melhor tacada que já tinha feito. Foi tão forte, mas tão forte, que pude ouvir o crânio do zumbi se esfarelar e o mesmo caindo. O barulho de seu corpo fez com que os outros zumbis se alertassem e viessem ao meu encontro. Mas nada que pudesse realmente me atrapalhar. Fui para o canto do mercado, de modo que viessem apenas 1 morto por vez e eu me sentisse mais confortável. Porém, nesse meio tempo, se revelou mais 3 mordedores dentro do estabelecimento, o que totalizava 5 tirando o que eu havia “matado”. Então parecia-me que o lugar não estava tão limpo como eu pensara. Mas, de qualquer jeito, minha tática funcionou. Cada mordedor que se aproximava era abatido por meu taco, que ficou ensanguentado. Depois de ter aniquilado essas aberrações, decidi que agora seria a hora de eu procurar tais mantimentos que precisava.

    Dizem que humano é uma máquina, e que como máquina precisa de combustível, humano precisa de comida. Fui em direção á seção “bolachas, macarrão e arroz.” Ali, praticamente prateleiras cheias não existiam mais, apenas pedaços de plásticos vazios em seu interior. Consegui ainda pegar alguns pacotes de bolacha e sacos de arroz, e apenas 3 pacotes de macarrão do tipo parafuso. Alimentos que precisavam de geladeira, eu simplesmente ignorei. Fui para a parte de bebidas e ali procurei sucos em latas de alumínio, água mineral e alguns energéticos.

    Depois de encher a mochila com tais mantimentos, fui a busca das fontes de calor. Andei em direção á seção “utilitários e limpeza doméstica”. Ali, encontraria diversas coisas como vassouras, alvejantes e amaciantes. Mas meu foco era o álcool e fósforos, com certeza. Não foi difícil para achar, mas levei um baita susto quando de baixo de umas das prateleiras, surge uma mão e me agarra pelo pé, fazendo-me cair. Havia um mordedor prensado entre duas prateleiras, uma do corredor onde eu estava e uma do outro lado. Meu coração disparou, mas por sorte sua cabeça também estava prensada, impedindo-o de me morder. Como estava de calça, ele não podia me arranhar, então rapidamente peguei o taco de baseball que havia caído e golpeei sua mão. O ulna quebrou na hora, o que confirmei por um barulho crocante vindo de seu braço. Não me surpreendeu que os movimentos da mão pararam na hora, ou seja, além de quebrar seu osso, eu ainda rompera seu tendão. Tive o esforço de apenas retirar seus dedos envoltos na minha perna enquanto via o mesmo se debatendo no chão. Acho que ele não sentiu nada por eu ter feito aquilo.

    Voltando ao meu objetivo, encontrei 5 garrafas de álcool de 500 ml muito facilmente. Precisei apenas de meros 40 segundos para achar tal garrafa. Os fósforos, a mesma coisa. Aproveitei ainda para pegar outras coisas como itens de limpeza pessoal, como escovas e pastas de dentes, e ainda um pouco de sabão em pó, em pedra e detergentes. Mesmo com o mundo em chamas, eu não queria me passar por um porco. Limpeza era essencial, ainda mais com esses corpos putrefatos andantes. Será que a doença deles não passaria para mim por questão de limpeza?

    Já havia pegado tudo que eu precisava. Estava saindo quando tive uma surpresa. Comecei a ouvir alguns barulhos estranhos, como de quem se pressionava contra uma porta. Depois, um estouro. Andando sorrateiramente, vi uma horda enorme de zumbis infestarem o mercado, vindos de uma porta perto da seção de queijos e frios, que dava acesso ao exterior e á lixeira do mercado. Aquilo me deixou com medo. Ainda mais porque tal seção era perto da porta principal por onde eu entrei, e como eu demorei alguns instantes para perceber o que estava acontecendo, os mordedores tomaram conta da minha única saída. Como sair agora? Meu taco de baseball não seria páreo para eles, ainda mais uma horda de 30 zumbis no mínimo. Lembrei-me do álcool. Não sabia se os mortos-vivos eram imunes ou nem se importavam com fogo, nem se eles eram afetados. Mas tinha de me arriscar, não? Fui á outra extremidade do mercado sem ser visto e ali peguei uma das garrafas e despejei todo o líquido no chão. Rapidamente abri uma das caixas de fósforo e peguei um deles. No entanto, deixei-o cair e nisso um dos zumbis me detectou. Mas só um deles. Rapidamente peguei-o do chão e acendi, sai de perto e joguei. O clarão ficou imenso e depois de alguns minutos vi toda a horda indo para cima do fogo, para verificar o que havia provocado aquilo. Aquela seria minha hora de escape. Quando a horda estava toda em cima do fogo, corri para a porta do mercado. Alguns ainda estavam no caminho, mas apenas um baque com o taco já derrubavam os mesmos e meu caminho estava livre. Porém, não me foquei em derrubar os mordedores que estavam no caminho, apenas os que bloqueariam mesmo. Depois de poucos instantes eu já me encontrava dentro da Aventador rumando em direção á minha casa.

    Guardei a Aventador no lugar de costume e corri em direção á casa. Incrivelmente não havia nenhum mordedor nas ruas, para minha surpresa, mas de qualquer jeito me apressei para chegar ao meu refúgio. Peguei a chave guardada dentro de meu bolso e abri a casa.

    Já na entrada ouvi Alice chorando. Deixei a mochila em cima do sofá e o taco apoiei sobre a parede para depois lavá-lo. Não queria que minha única arma virasse uma madeira infectada.

    Subi e peguei Alice no colo e dei-lhe a mesma comida de sempre, mas agora incrementei a refeição com o iogurte. Ela se calou e depois senti que fazia dias que não dava a atenção necessária para meu pequeno anjo. Cantei uma canção para ela e vi como ela se acalmava... Até riu! Isso alimentava minhas forças de continuar á seguir em frente e de não simplesmente desistir da vida. Quando ela dormiu em meus braços, levei-a de volta para seu berço e repousei-a ali.

    Voltei aos meus afazeres. Primeiro, organizei a comida dentro dos armários e os itens de limpeza e utilitários eu guardei no porão. Estava já cansado; meus braços e costa doíam por pregar as madeiras nas paredes e por carregar aquela mochila, além de manusear com força o taco de baseball. Decidi tomar um banho e descansar pelo resto do dia. Até que lembrei-me que não mais havia água corrente. O jeito que encontrei foi de pegar um galão de água grande que eu tinha e separar um pouco dela num balde que minha mãe usava para limpar a casa. Com uma caneca, despejaria água sobre o corpo. Eu ri da maneira que a partir de agora tomaria banho; uma maneira rudimentar que nunca na minha vida eu pensei que eu fosse usar.
    Demorei um pouco para me adaptar a água fria, mas consegui tomar meu banho. Troquei de roupa e ao invés de dormir, como havia planejado, senti uma falta de meus pais estarem presentes naquele momento. Fui então ao quarto deles para tentar encontrar qualquer álbum de fotos ou quem sabe até um disco de DVD que eu pudesse ler no meu mini aparelho leitor de DVD, que usava bateria.

    Abri o armário deles e para meu desgosto, não encontrei nada que me desse qualquer conforto naquela hora. Mas então percebi certo fundo falso no fundo do armário de carvalho branco. Havia um pequeno parafuso que prendia certo fundo, também branco, que ficava preso junto ao armário. Desci ao porão rapidamente e abri a maleta de ferramentas de meu pai. Peguei uma chave de fenda e voltei ao quarto. Retirei o parafuso e de dentro do fundo, encontrei uma caixa de madeira, bem trabalhada á mão com detalhes, e no meio escrito em letras bem grandes e douradas, a sigla “OSS”.

    Eu conhecia essa sigla. Significava “Office of Strategic Services”. Era a agência de inteligência do meus país na Segunda Guerra Mundial. O que uma coisa daquelas estava fazendo em minha casa!?

    Havia uma tranca que era facilmente aberta, similar aquelas de caixas de peças de xadrez. A caixa não era muito grande e nem muito pequena, de tamanho aproximado de um caderno escolar, mas com muita profundidade. Quando abri a caixa, primeiramente encontrei um estojo de medalhas. Havia suporte para 8 medalhas. Não distinguia nenhuma delas e nem o porque de estarem ali, mas então tudo ficou claro depois de tirar o estojo do lugar. Embaixo dele, logo no início, haviam muitos papéis um sobre o outro, mas logo um chamava a atenção. Estava escrito: “Major Richard Winters”. Sim, era o meu bisavô, que havia lutado na Segunda Guerra Mundial. Junto deste papel, havia um nome das medalhas que ele havia recebido. “French Liberation Medal”; “Army of Occupation Medal”; “World War II Victory Medal”; “Belgian WW II Medal”; “Bronze Star Medal”; “Purple Heart”; “American Defense Service Medal”; “National Defense Service Medal”, entre outros.

    Havia papéis dizendo que ele participara na invasão da Normandia, na Operação Market Garden, em Bastogne e em diversas outras operações menores. Haviam fotos e mais fotos de seu regimento e até mesmo um DVD em que estava escrito “101st Airborne”. Havia também uma medalha de pescoço, daquelas que abrem em que estava a foto dele e de uma mulher que eu deduzi ser minha bisavó. Havia também um uniforme do tempo em que ele servia no front, totalmente limpo e novo que provavelmente vinha sido conservado desde sua baixa do exército, e por fim, havia uma outra caixa menor, dentro desta caixa. Tinha um vidro e ali dentro pude ver uma maravilha. Tirei a caixa e repousei-a sobre a cama. Não pude acreditar.
    Era uma M1911 com o cano cromado em um prateado brilhante e um cabo de madeira adornado com detalhes á ouro e algumas pequenas pedras brilhantes que me parecia diamantes, rubis, esmeraldas e safiras. O carregador da arma estava cheio de balas, também de ouro, enquanto o cartucho era do mesmo prateado do cano. A arma estava em perfeito estado, dava para se perceber. Então era por isso que, provavelmente, meu pai guardava tal caixa de bala no porão. Ainda com a arma, estava um outro papel, que li:

    “O coronel Robert Sink presenteia o Major Richard Winters pela sua brava participação na frente de batalha na Operação Overlord e na Operação Market Garden com esse armamento de honra, que representa toda a bravura deste herói de guerra que lutou para defender o nosso país”.

    Então meu bisavô era um herói de guerra e eu nunca soube! Aquilo me orgulhava de usar seu sobrenome. Nikolai Winters, bisavô do Major Richard Winters, quem diria! Certamente meu bisavô foi um bravo soldado como descreviam nos inúmeros papéis. E aquela arma, com certeza veio em hora boa. Era uma arma de honra, sim, mas era uma arma. Os projéteis de ouro eu conservaria, mas dela eu precisaria. Depois aprenderia a manusear a mesma. Por fim, a última coisa que encontrei na caixa foi um coldre que servia muito bem para guardar a arma na cintura.

    Me maravilhei com as descobertas que fiz sobre meu bisavô, mas ainda não tinha acabado. O DVD ainda ficava como um mistério para mim. Rapidamente fui ao meu quarto e peguei meu leitor portátil que estava com carga cheia. Coloquei o disco no leitor e com fones de ouvido, comecei a ver o vídeo. Estava em péssima resolução e não era em cores, mas toda e qualquer imagem valeu a pena ver. Primeiro, alguns soldados limpando suas armas num momento de descontração, enquanto contavam piadas. Depois a imagem se direcionava para o “Chefe” de cozinha do regimento, cozinhando uma sopa que dava para perceber ninguém gostava, mas ou comia aquilo ou morria de fome. Depois, outro corte e a câmera agora filma um observador numa trincheira, vendo o outro lado do front, observando se qualquer intruso tenta ultrapassar a linha demarcada. Era mais de 3 horas de imagens, e eu não me cansava de ver. Uma lágrima escorreu de meus olhos quando a câmera se focou no meu bisavô. Sabia que era ele pois chamaram-no pelo nome de “Winters!”. Travei a imagem na hora que ele virava e fiquei admirando aquela face. A lágrima não era de tristeza, mas sim de felicidade. Dali até o resto da noite, fiquei vendo esse vídeo e vendo como essas pessoas se sacrificaram por nós, e hoje existem pessoas que nem sabem que heróis como aqueles existiram...

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    Capítulo 17 - Foragida

    Depois de ver todo o vídeo de meu bisavô, naquela noite eu tive um sonho. Ele começava comigo e mais alguns amigos conversando sobre filmes de terror e depois todos nós íamos para casa. Ali, uma tia que eu não me lembrava do nome estava em casa. Ela nos dava algumas barras de chocolate e depois que meus amigos iam embora, falava que minha mãe havia saído. Eu lembro que fiquei preocupado porque de noite as criaturas saíam e devoravam qualquer humano na rua. Mesmo assim, ainda fui escovar os dentes. Quando acabei, ouvi uma conversa lá na rua. Sai correndo para o portão e olhei no olho mágico. Dali, vi algumas pessoas passando para uma casa próxima á minha, e quando pensei que não era minha mãe, repentinamente ela aparece abrindo o portão e entrando.

    O sonho acabou aí, mas pensa que parei de ver coisas? Não. Quando acordei, senti uma mão tocando meu braço e quando abri os olhos, vi a imagem dela e num som bem distante, a mesma me dando um bom dia como sempre fazia. Fechei os olhos para admirar aquele sibilar e quando abri novamente tudo havia sumido. Naquele dia, rezei por minha mãe e rezei para que de onde estivesse, cuidasse de mim.

    Voltando ao normal, como de rotina, ouvi Alice chorar. Desta vez, no entanto, o ritual foi maior. Tive de dar café da manhã para ela, e quando pensei que havia acabado, senti um odor fumegando de seu corpo. Sim, precisei trocar sua fralda. Não gostava de fazer aquilo, mas era necessário. Tomei café da manhã depois disso e voltei aos meus afazeres.

    Gostava de observar a cidade. Não como ela estava, mas era um hobby meu ficar observando pelo telescópio todos os prédios e arranha-céus da mesma. E hoje, ela estava nublada com algumas nuvens de chuva bem ao fundo, longe mesmo, e com um vento que fazia as copas das árvores se mexerem. Subi para meu quarto e, pegando uma cadeira, coloquei-a na frente da mesa que estava montado meu telescópio. Havia 2 ou 3 mordedores nas ruas, que não notaram nada. Não notaram porque a maneira que eu dispus a lente e o diafragma da luneta, ela ficava invisível dentro da casa. Desse modo, minha visão era privilegiada e escondida.

    Primeiro, fitei o prédio que alguns dias antes fora palco de uma das cenas mais aterrorizantes que eu já tinha visto. A cena que aquele homem de terno e uma criança de jogam do prédio. Da altura em que estavam, era difícil supor se sobreviveriam. Mesmo que tivessem morrido, seus restos mortais já não mais existiam, provavelmente. Os mordedores teriam tomado conta de roer cada centímetro de tecido vivo que tais pessoas alguma vez já tiveram.

    Observando de minha casa, eu tinha visão de apenas 2 ou 3 ruas do centro grande. As ruas estavam infestadas, como previsto. Alguns mordedores estavam caídos, como mortos, outros estavam em cima de qualquer pedaço de carne que havia ali. Mas uma situação me chamou atenção. Dentro de um carro, havia um corpo caído e o vidro estava ou estilhaçado ou coberto de sangue, era difícil identificar. Mantive o foco da lente e comecei a analisar a situação. O que vi foi 2 adultos mortos, um em cima do vidro e um no banco, sendo devorados pelos mordedores. Julgando pela cor e pelo modo que estavam comendo, era recente, quiçá no momento. Eram momentos como esses que faziam eu me “auto-questionar” se realmente eu queria viver num mundo como aquele.

    Comecei a olhar os prédios mais altos. Quando ao fundo de trás de minha casa, ouvi um barulho estranho. Não era um mordedor, mas continuei focado no barulho.
    Quando dei conta dele, era um helicóptero. O mesmo passou sobrevoando a cidade em baixíssima altitude, com velocidade surpreendente. Foi parar no ar no meio da cidade, e ali ficou rodopiando. Agora de olho no telescópio, foquei a lente no mesmo. Dentro, pude ver o piloto e outro passageiro. Não estavam fazendo nenhum movimento estranho, a princípio. Depois de ficar quase 5 minutos no ar, partiram em linha reta e desapareceram no horizonte.

    Aquilo me intrigou. Haviam sim mais pessoas vivas, mas seriam elas do governo? Não consegui identificar nenhum logotipo do meu governo ou de qualquer outra entidade. Era estranho.

    Por fim, fitei a mercearia do meu bairro. Aquela que me proveu a comida que eu precisei por muitos dias. Lembrei-me da aventura que ali vivi. E o que acontecera com aquela garota? Eu estava curioso. Provavelmente ou ela morrera, ou saíra daquele covil. Mas toda aquela história estava me deixando curioso. Agora eu tinha uma arma; a M1911 de honra de meu bisavô. Acho que me sairia bem se fosse naquele lugar. Estava decidido: eu investigaria a mercearia.

    Primeiro tinha de me preparar. Desci ao porão e procurei por tal caixa de balas .45 ACP que meu pai tinha guardado. Achei, além da caixa, mais dois carregadores que encaixavam perfeitamente na arma.

    Voltei ao quarto e ali comecei a preparar os carregadores. As balas de ouro, conservei na caixa da OSS. Joguei todas as balas na cama e ali comecei a encher os carregadores. Cada um comportava 7 balas mais 1 se estivesse carregada, totalizando 8 balas. Para minha surpresa, a quantidade de balas da caixa estava de acordo com o número que eu precisava para encher cada carregador. Perfeito. Antes de colocá-la no coldre, porém, treinei como carregá-la. Primeiro precisava estar com o tambor vazio. Depois apertava-se o botão em cima do capo de madeira e o carregador caía. Colocava-se o outro no lugar e puxa-se o tambor para trás. Desse modo a arma volta a posição normal. Testei e era isso mesmo.

    Ajustei o coldre para minha cintura, e quando ele encaixou bem, coloquei a arma ali. Notei, no entanto, que ficava um grande espaço livre dentro do coldre. Então, percebi que os outros 2 carregadores cabiam perfeitamente ali. Coloquei-os.

    Desci para pegar alguns mantimentos se precisasse passar algum tempo ali, e também peguei uma garrafa de água 600 ml, uma lanterna e uma garrafa de álcool, assim como fósforos, se eu precisasse criar uma distração, e por fim, meu querido e velho companheiro de madeira, meu taco de baseball. Abri a porta da casa e, já fora, tranquei a mesma. Ia descobrir o que acontecera com aquela pobre indefesa. Acho que mesmo se não encontrasse ninguém ou encontrasse até mesmo um cadáver aniquilado e mutilado, meu espirito se iria se recompor. Era muita pressão para um garoto ainda menor de idade.

    Não planejava pegar a Aventador ou qualquer outro tipo de veículo. Do contrário, eu queria passar despercebido. Era mais sensato e menos arriscado. Olhei para as ruas; não havia errantes, o que me deu certa tranquilidade. Em vez de pular a cerca, como de costume, eu abri a portinhola e transpassei o território delimitado pela mesma. Assim que fechei a portinhola, chequei minha arma e se estava realmente carregada e em bom estado. Sim, estava perfeita. Mas tinha em mente que só dispararia se realmente necessário, no caso de uma grande horda cercar-me e eu não tiver saída. Na verdade, até nesse caso eu provavelmente não dispararia, pois ou eu faria uma tática de defesa para que apenas 1 de cada vez viesse ao meu encontro, ou daria qualquer jeito de escapar. Mas a arma me dava proteção, isso era claro.

    O caminho até a mercearia não foi difícil e, para falar verdade, eu estava com preguiça. Acordara não fazia muito tempo e o que me fez ir até lá foi a curiosidade. Observei as casas enquanto fazia meu “passeio”. Algumas estavam em perfeito estado. Outras, no entanto, tinham integridade questionável. Janelas quebradas e portas arrombadas. Todas sujas de barro e pegadas. De pessoas ou mordedores? Fazia diferença? Todos, até eles, tem pés.

    No entanto, enquanto passava pelas casas, vi uma que realmente fiquei curioso. Era a mais perfeita de todas. Não havia janelas quebradas nem portas arrombadas, sequer pegadas. Fui em direção á mesma e entrei lentamente. Os móveis, a decoração, até uma mesa posta do jantar, estava tudo perfeito. A casa era de dois andares. Subi para os quartos e a mesma coisa. As camas feitas e os armários arrumados. Apenas uma coisa me chamou a atenção. No banheiro do primeiro andar, estava pregado em sua porta um pequeno papel que continha os dizeres:

    “Se você é um sobrevivente e precisa dessa casa, faça bom proveito dela. Deixei-a arrumada para qualquer pessoa de boa intenção que precise usá-la. Apenas não abra em nenhuma circunstancia essa porta. Não há mais chave, pois eu me livrei dela.
    Então não tente entrar.

    Grato.

    Uma alma que já se foi”

    Era um bilhete inusitado e estranho. Realmente não havia chave na porta do banheiro. Ainda assim, colei o ouvido na tranca. Ficando por mais ou menos 5 minutos, não ouvi nada. Nem qualquer ruído de mosca. Dei duas batidas na porta e ainda arrisquei um “olá?”, mas não obtive êxito. Sai dali com outro mistério em mente. O que será aquilo?

    Voltando á rua, eu já avistava a mercearia. Passei pela Aventador, mas antes chequei se ninguém havia feito nada contra ela. Estava perfeita. Mais alguns passos e eu já me encontrava na porta do pequeno mercado.

    Olhei pelas janelas e não vi nenhum desgraçado que poderia dar cabo de minha vida, nem vivo, nem morto. Acho que o caminho está livre.

    Entrei pela porta da direita e a primeira coisa que fiz foi subir para o andar superior, onde não se vendia alimentos, mas artigos para festa, panelas, e outras coisas mais. Cada passo meu na escada era calculado para não fazer qualquer barulho, nem sequer deixar poeira. Para tanto, até tirei meus sapatos e com uma das mãos eu segurava o coldre, pois a outra estava ocupada com o bastão. Depois de alguns minutos subindo, finalmente cheguei.

    A princípio não havia nada de errado. Mas não bastou alguns segundos para eu perceber que alguém passou por ali sim. As caixas e as panelas estavam caídas, de forma que parecendo uma barricada improvisada. Havia pacotes de alimentos espalhados pelo chão, e bastou eu andar mais um pouco para encontrar 2 corpos de mordedores caídos. Cada qual, tinha uma faca de cortar carne cravado na testa. Julgando pela posição da faca, não foi realmente “cravada” e sim arremessada com precisão.

    Continuando minha busca pelo mercado, tentei encontrar qualquer outra evidência de humanos ali. Encontrei perto da seção de lençóis, outra pequena barricada, mas dessa vez parecia-me mais um covil. Lençóis também estavam esticados dentro da barricada, que formava quase uma cama. Aquilo era um dos principais indícios de que alguém passou por ali. A última coisa que fui encontrar que realmente me tirou tal dúvida, foi fezes e urina humana perto da seção de higiene, junto com alguns papéis higiênicos já usados. Então tive uma surpresa. De um dos corredores surgiu um mordedor. Não, ele não poderia usar aquilo. Mas não vacilei e matei-o assim que vi.

    Convencido de que realmente não só aquela garota, mas algum outro ser humano passara por ali, mas já deixara o local, eu fazia meu caminho de volta. Nessa volta, no entanto, ouvi qualquer utensílio metálico caindo de uma das prateleiras.

    Instantaneamente coloquei a mão na arma e já havia tirado o botão que prendia a mesma no coldre. Fiquei observando por algum tempo mas não encontrei nada. Então percebi que de uma janela aberta, o vento transpassava e ia acabar bem onde o item caiu. Ri de minha ingenuidade e continuei meu caminho de volta. Dei dois passos e depois ouvi alguma coisa cortar o ar. Aquilo me alertou novamente, mas não por muito tempo. Era rápido. A coisa acertou minha nuca e me fez cair, quase desmaiado.

    Dessa vez, um humano, sim, um humano, se aproximou de mim e ajoelhou perante o meu corpo. Minha visão estava turva e dilatada com o impacto, então não reconheci seu rosto. Mas depois de um tempo, com uma vez feminina, a pessoa sussurrou:

    - Nik?

    Desmaiei.

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Capítulo 18 - Última Luz

    Acordei numa cama forrada com um leve pano extremamente branco, recoberto por uma manta. Era primavera, estava quente. Com a manta sobre mim, o calor se amplificava muito mais. Fui abrindo os olhos lentamente, sem mexer os pés ou braços. Queria primeiro reconhecer onde estava, e quem havia me trazido até lá. Enquanto abria os olhos, fiquei pensando no que acontecera. Lembrava que estava na mercearia, e tinha avistado algum tipo de refúgio, uma cama. Depois disso eu estava saindo, e então fui acertado na cabeça. Disso não tinha dúvidas. Mas após isso ouvi uma voz me chamando pelo meu mais íntimo apelido. Seria mesmo real aquela voz ou eu estava delirando, da solidão que eu passava? O inferno começara não fazia muitos dias, mas não podia ver mais ninguém vivo na cidade. Apenas grupos e hordas daqueles demônios.

    Quando finalmente abri os olhos por completo, pude perceber que estava no meu quarto, na minha casa. Quem diabos me trouxe daquela mercearia até minha casa? Seria coincidência ou era alguém conhecido? Sem mexer a cabeça, tentei olhar ao meu redor para encontrar qualquer pista. Olhei para o criado mudo ao lado de minha cama e vi a arma de meu avô repousando sobre a madeira. Os dois carregadores também estavam presentes, e julgando pela aparência, estavam com os projéteis. No cabide estava o coldre. Bom, quem quer que fosse não aparentava ser violento.
    Ouvi passos que pareciam se amplificar, então deduzi que estavam subindo a escada.
    Fechei os olhos novamente na mesma posição e pude ouvir alguém se aproximar de meu quarto. O indivíduo entrou no meu quarto e foi se aproximando de minha cama pelo lado esquerdo. Se tal tentasse qualquer movimento estranho, ajoelharia seu estômago e pegaria minha arma. O que se revelou, no entanto, foi inusitado. A pessoa tocou no lado superior direito da minha testa, e então percebi que estava com um curativo nessa região. Ela mexeu no curativo e analisou se estava bem colado com esparadrapo. Percebi quando ela passou a mão nos lados da gaze. Minha pele reagiu e senti a presença da fita. Depois da “análise”, a pessoa começou a passar a mão em meu rosto, especialmente na bochecha esquerda, com uma espécie de afago muito íntimo. Neste momento eu já estava tenso, e se ela continuasse era provável que eu tentasse acertar um golpe. Mas não, depois disso ela saiu de meu quarto sem fechar a porta.

    Os passos se arrastaram até o quarto de minha irmã. De começo, já estava apreensivo. Mas meus sentimentos explodiram apenas quando pude ouvi-la chorar. Rapidamente sai da cama e apanhei a arma. Chequei se a mesma estava carregada e pronta para atirar, e estava. Na ponta dos pés fui indo em direção ao quarto de minha irmã.

    Mesmo que tal sobrevivente teve compaixão ou dó de mim, não suportaria nem toleraria que tentassem qualquer coisa contra minha pequena. Não importava se era homem, mulher, velho, novo. Estavam mexendo com ela, e isso eu não poderia deixar. Enquanto ia em direção ao quarto de minha irmã, fiquei pensando como seria tal pessoa. Se é realmente necessário mata-la. Decidi que veria a situação antes de me precipitar a fazer qualquer ato. Mas não teve jeito. Olhei para dentro do quarto e a pessoa estava com a mão dentro do berço de minha irmã, fazendo-a chorar mais ainda. Apunhalei a arma, mirei e... apertei o gatilho.

    Nesse instante, minha visão dilatou e por um instante, vi tudo ficar lento, como se eu tivesse parado o tempo. Não conseguia me mexer, mas pude ver minha mãe aparecendo em minha frente. Ela dizia:

    - Não Nikolai, você não foi feito para isso. Você não é um assassino. – e desapareceu. O tempo ainda estava dilatado, e eu esperava a bala sair do cano, mas agora com certo arrependimento. Minha mãe estava certa. O tempo volta ao normal assim como minha visão, e tenho uma surpresa. O tiro falhou. Eu não havia carregado a arma do jeito certo, e a bala ficou presa no tambor. O barulho do tiro falho despertou a atenção da pessoa, que se virou. Quando vi aquele rosto, minha mão se contorceu como quando se quebra os ossos da mesma. Involuntariamente, a arma caiu de minha mão que estava agora normal. Meu coração “fisgou e olhei com espanto. A princípio não acreditei. Mas tudo ficou claro depois que associei o que acontecera antes daquilo. Era Natalie!

    Corri ao seu encontro e dei um abraço nela. O mesmo ela fez. Já em seus braços, não pude conter as lágrimas. Exclamei:


    - Nat! Você está viva!

    - Nik,!

    Esse provavelmente era o dia mais feliz de minha vida. Depois disso, não falei mais nada. Mas aconteceu uma coisa muito melhor. Olhei fundo naqueles olhos castanhos, passei a mão em seus cabelos longos e sedosos, e me senti mais apaixonado do que já era. A partir daquele momento, percebi que não existiam coincidências. Talvez, naquele dia, eu fora o premiado de Láquesis. Tudo se confirmou quando nossos lábios se tocaram. A felicidade havia tomado conta de mim, mas preferi aproveitar o momento. Aquele beijo foi o mais apaixonado que já tivemos. Em meio ao inferno, eu encontrava minha alma gêmea. Agradeci á Deus por esse momento, por ter me dado mais forças ainda para lutar naquele purgatório. Acho que naquele dia, eu daria uma festa por ter reencontrado com minha amada.

    - Como você sobreviveu todos esses dias, Nik? – Aquela voz me confortava, era doce como mel.

    - Foi os piores dias de minha vida. Quando tudo começou, eu estava em casa. Tive que sair as pressas com Alice, e ainda capotei o carro. Passei 2 noites fora de casa, e 1 delas em um beco. Encontrei um grupo de mercenários que não matava só zumbis, e sim pessoas. Muitos desses dias, passei correndo desses demônios viventes, até descobri uma fortaleza deles. Descobri também que Seattle foi destruída, por bombardeiros do exército. E me parece que não existe mais governo. Venha meu amor, vou teu contar o resto. Mas antes, pode me ajudar a alimentar Alice?
    Enquanto alimentávamos minha irmã, vi que Natalie tinha uma espécie de dom, um carisma muito forte com crianças. Aquilo seria ótimo, pois ela poderia cuidar melhor de Alice do que eu. Estávamos com fome, e era a hora do almoço, então decidimos comer alguma coisa. Natalie sabia cozinhar muito bem, mas não poderia fazer uma comida exótica pois não tínhamos suprimentos para isso. Ela disse:

    - Estou vendo que você está faminto Nik, e como está branco! Vou preparar alguma coisa pra você.

    - Não acho que tenha muita coisa para se comer aqui Nat, a não ser coisas básicas. É melhor comermos os frios primeiro pois logo estragarão. – Retruquei. Surpreendi-me quando de um dos armários, ela tirou um pacote de batatas desidratadas e olhou-me com uma cara sarcástica.

    - Parece que sua mãe pensou em você, não? Aliás, onde está ela?

    Não respondi. Cada vez que me lembrava dela, meu coração se apertava de pensar que meus progenitores se foram.

    - Depois conversamos sobre isso meu amor. É uma longa história...

    - Tudo bem Nik, agora me responda, tem alguma carne por aqui? Qualquer coisa. Frango, carne bovina, peixes.

    - Acho que meu pai guardou no freezer algumas carnes e peixes, mas com o tempo acho que já deve estar estragado. – Complementei. Ela abriu o congelador e ficou tirou 2 filés de frango. Fiquei surpreso ao ver que ainda havia gelo ali dentro, embora fosse notável uma grande poça de água. Rapidamente ela fechou o freezer para manter o gelo e abriu uma das portas dos armários. Tirou uma lata de óleo vegetal e acendeu o fogo. Depois, pegou uma panela e uma frigideira, e começou a preparar. Colocou o óleo na frigideira, e ali mergulhou os filés de frango. Na outra panela, colocou um pouco de água de um galão presente do lado da geladeira e deixou ferver. Depois esperou um pouco para resfriar parcialmente a água e despejou as batatas. Mexeu ali, virou aqui, e dentro de poucos minutos estava comendo, embora simples, a melhor comida que eu já tinha comido desde o inferno começar.

    - Sabe, é ótimo poder saborear de novo o gosto de comida de panela. Eu já estava enjoando de tanto queijo.

    - Você passou esse tempo todo só comendo queijo? Qual seu problema?
    - Não saber cozinhar que nem minha deusa. – Disse. Ela sorriu com essas palavras e notei um brilho em seus olhos.

    - Então, pode continuar o que estava me contando?

    - Sim, claro. Então, depois daquele cara que eu te disse, que era do exército, me ajudar e eu sair daquele metrô, eu encontro ele de novo, só que ele já estava morto e estava com capacete cobrindo o rosto, só fui perceber que era ele quando disse seu nome, se é que era ele e não estou delirando. Mas a bolsa que ele me deu está até hoje aqui. Então peguei o carro daquele megalomaníaco que matou aquela família nos primeiros dias, e fugi para cá. Até que encontrei onde você dormia, naquela mercearia.

    - Nik, eu conheci esses mercenários! Eles estavam me perseguindo um dia, então me escondi naquela mercearia!

    - Então era você desde o início! Eu sabia que devia ter ido ao andar de cima, não sei por que não fui!

    - Não se preocupe, não tive quaisquer problemas lá. Até passei bem, a única parte ruim foram as noites que eram frias que eu não tinha cobertor e alguns mordedores. De resto, não faltaram comida nem acessórios de limpeza. Nik, agora poderia me contar o que aconteceu com seus pais? – Aquilo me derrubou, mas teria de conviver com tal fato. Não poderia ser mais fraco que nem era antes.

    - Para falar a verdade, não sei realmente o que aconteceu. No primeiro dia do inferno eles estavam fora de casa pela madrugada, quando tudo começou. Eu sabia dirigir, não perfeitamente, mas sabia. Peguei Alice e rapidamente saí de casa, sem rumo. Capotei o carro e... A partir daí você já sabe. Então quando voltei para casa antes de partir de novo, encontrei esse bilhete dizendo tais palavras que guardo até hoje em minha mente... – Não pude conter uma lágrima – E junto dele encontrei uma mala cheia de roupas e outra de comida e água. Mas eu não parei de ver ela desde então. Sempre que estou precisando, ela vem me ver e até me dá conselhos. Não sei se isso é delírio pela perda, ou realmente acontece.

    - Claro que acontece Nik! Não pense dessa maneira. Seus pais só querem seu bem e cuidam de você até hoje. Mas diga-me, como conseguiu aquela arma?

    - A pistola? Bom, alguns dias atrás fui até o quarto dos meus país ver se achava um álbum de fotos, quando acabei achando uma caixa de madeira estranha, com a sigla “OSS”. Abri e achei a arma junto com o dossiê de toda a trajetória de meu bisavô na Segunda Guerra Mundial. A arma era uma pistola de honra pelos feitos dele na guerra. Nat, não quero te pressionar, mas se puder me contar onde estão seus pais eu ficaria grato... – Senti que aquela pergunta não era fácil de se fazer, especialmente naquele momento delicado. Mas ela era forte e não vacilou em responder:

    - Bom, nós começamos a fugir apenas na manhã do apocalipse, não na madrugada que nem você. Meu pai não possuía armas, então apenas fomos indo para o leste, para o interior do país. Acabamos sem gasolina e tivemos que dormir num posto. Ali, uma horda apareceu e pegou meu pai. Minha mãe eu saímos correndo, mas na hora do pavor ela acabou agarrada. Mesmo comigo tentando resistir e puxá-la de volta, não foi suficiente e tive que ir embora. Então, voltei para casa.

    - Sinto muito meu amor – disse, abraçando-a.

    - Não se preocupe, Nik. Estou bem. – ela ponderou. Era uma mulher forte, podia se notar facilmente. Melhor aliada naquele inferno eu acho que não poderia encontrar. E o melhor de tudo? Nós nos amávamos. – Mas não ache que vai escapar da louça, tá? E vai ser difícil lavá-la sem água corrente! – e finalizou me dando um beijo.

    Troquei de roupas, coloquei o coldre e a pistola. Natalie tinha aprendido com sua mãe noções básicas de primeiros socorros e trocou meu curativo. Ainda não sabia porque eu tinha uma gaze na minha testa, e ela disse que no calor do momento, ela se precipitou e me atacou na cabeça com uma panela. Não a culpei pelo feito, e foi até melhor pois assim ela saberia se defender sem minha ajuda também. Decidimos conversar o que faríamos daquela data em diante.

    - Nik, o que faremos daqui em diante?

    - Pensei que fixar-nos por aqui mesmo. Conhecemos a cidade bem e ela é afastada do centro grande. Tenho um carro de fuga á algumas casas daqui. Podemos plantar uma horta quando a comida acabar, e a mercearia não é muito longe. Eu tenho uma arma de fogo e ainda a cerca, então estamos seguros.

    - Sim, mas e aqueles mercenários?

    - Eles não nos detectarão se ficarmos atentos. – Conclui. Mesmo ela sendo forte, percebi que até os mais fortes em uma situação daquelas ficavam debilitados. Ela falou:

    - Nik, podemos parar de conversar sobre esse inferno por um momento? Quero esquecer que nunca mais verei certas pessoas; que nossas carreiras foram arruinadas. Que o mundo nunca mais será como era.

    Passamos o resto do dia como se fosse qualquer dia normal em que ela ia á minha casa. Ela não tinha perdido seu smartphone, embora o mesmo estivesse com bateria fraca. Escutamos música, conversamos sobre a escola e o que tinha acontecido com todos os outros.

    - Acho que vou sentir falta da escola, sabe? Aquelas aulas em que ficávamos sem fazer nada, apenas conversando besteira e ouvindo música, planejando de sair... Lembra daquela vez que a Emily ficou trancada no banheiro? – E começamos a rir juntos – A diretora teve que chamar até um chaveiro para abrir a tranca e quando ela saiu, coitadinha! Estava toda envergonhada!

    - Sim, aquele dia foi hilário! – Retruquei – mas acho que o pior foi quando o Michael estava com raiva das professoras e quis pular o portão da escola! – Não me segurei, e de tanto rir, meu estômago doía – Ele pulou, mas caiu de cara no chão! Teve que ir pro hospital rapidinho!

    - Ah Nik, eu fico me lembrando de quando eu e as meninas saíamos para ir ao shopping fazer compras... Quando íamos, eu e você, andar no parque todo fim de semana... Me lembro da festa em que tudo começou entre nós... – Ela apoiou sua cabeça em meu tórax – Será que algum dia voltaremos á viver numa sociedade normal, sem essas coisas malditas?

    - Não sei meu amor, realmente não sei. Mas temos um ao outro, e para mim isso é o que mais importa agora. – E ela sorriu. Nos beijamos por alguns segundos e depois percebemos que era tarde.

    Alice começou a chorar bem nesse instante, mas mesmo com sono a tarefa precisava ser feita. Com sua milagrosa ajuda, nos demos comida á Alice e logo ela parou de chorar. No quarto, porém, chegamos á um dilema. Onde Natalie dormiria?
    - Onde você quer dormir? – Indaguei

    - Acho que na... – senti um tom sarcástico – mesma cama que você? – e estranhei esse final.

    - Mas meu amor... – não tive tempo de completar. Ela rebateu:

    - Nik, somos um casal ou não?!

    - Claro, claro, mas... É que é meio estranho... Digo... Nunca dormi com você antes... Não que eu seja pervertido, mas...

    - Fique tranquilo, eu não ligo. E se somos um casal, temos de fazer isso, e além do mais, quando mais gente na visão de outras pessoas, mais segurança. E se você teme seus pais, eles aprovariam essa atitude – E as palavras dela se confirmariam.

    Enquanto entrava no quarto, vi minha mãe, vestindo o mesmo vestido branco que sempre usava quando me visitava, acenar com a cabeça com um sinal de positivo e murmurar:

    - Ela está certa!

    Com um beijo de boa noite, dormimos na cama dos meus pais. Nada de mais aconteceu. Dormindo abraçado com ela. Acordei no meio da madrugada, e notei meu pai parado na minha frente. Vestia um terno de gala todo branco. Ele falava assim como minha mãe, pela mente, sem som algum. Murmurou:

    - Nikolai, preste atenção. Não tenha medo de nada, e essas coisas mínimas de casal são o que você deve se preocupar menos ainda. Se qualquer coisa acontecer, deixe acontecer. Vocês se amam, não fique apreensivo. É uma companhia humana nesse inferno, ainda mais a sua namorada, é uma dádiva, meu filho. – e desapareceu.
    Aquelas palavras me encheram de força, e para acabar, lembrei-me do salmo que sempre lia ao acordar. Naquele dia, porém, eu esquecera.

    “Tu que habitas sob a proteção do Altíssimo, que moras à sombra do Onipotente,
    dize ao Senhor: Sois meu refúgio e minha cidadela, meu Deus, em que eu confio...”
    Depois de acabar, olhei para seu rosto magnífico e mais uma vez, me deslumbrei em sua beleza. Meu pai estava certo.

    Deus me dera uma última luz no apocalipse.
     
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  2. VladmirMakarov

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  3. VladmirMakarov

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  5. VladmirMakarov

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  7. VladmirMakarov

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    vladmirmakarov1
    los desperados tem novo capitulo depois de 1 mes de ferias!
     
    pddd curtiu isso.
  8. warof132

    warof132 Neutro

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    iae vlad,sempre estive lendo o Los desperados desde o começo,espero q continue :D
     
  9. Breno Moura

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    Achei bem interessante.
     
  10. sokugatomu

    sokugatomu Neutro

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    Pode me passar por mp o link da parte 1 e la parte 2
    agradeço,a historia pareçe ser boa
     
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