O SUICIDA SEM NOME
Em vida, ele foi evasivo e estranho. Na morte, ele se tornou um terrorista do 11 de Setembro (atentado ao World Trade Center), uma aparição fantasmagórica e uma estrela na internet.
Na sexta-feira, 14 de setembro de 2001, Lyle Stevik chegou a um hotel em frente ao Lago Quinault, em Washington. "A vida é boa”, este era o lema alegremente optimista que estampava uma velha placa no local.
Lyle, que parecia ter seus 20 anos, fez o que inúmeras pessoas já tinham feito antes: pegou uma caneta e registou suas informações no livro do hotel
Não havia nada de excepcional nisso, especialmente tendo em conta o contexto: três dias antes, ataques terroristas ao World Trade Center e ao Pentágono deixaram cerca de 3 mil pessoas mortas e desencadearam uma crise de segurança nacional.
Em 2001, o “Lake Quinault Inn” ainda era um negócio de família: Barbara, carinhosamente chamada de “tia Barb”, ficava na recepção, e seu sobrinho Gabe era proprietário do hotel e de uma loja adjacente.
O hotel, construído na década de 1960, tinha seis quartos no edifício principal e dois em um anexo. No interior do aposento, Lyle encontrou uma cama de casal, um tapete empoeirado, cortinas manchadas de nicotina, uma penteadeira de vidro e outros móveis simples.
Menos de uma hora após ter entrado no quarto, Lyle voltou à recepção – ele estava agitado, perturbado. Ele dormiu lá naquela e na noite seguinte.
Na segunda-feira, 17 de setembro, Maricela, funcionária do hotel, bateu na porta do novo hóspede, mas não obteve nenhuma resposta. Ela encontrou Lyle ajoelhado em um canto da sala: de costas para a porta, com os braços ao lado do corpo, a cabeça inclinada para trás, olhando para cima. No sábado, ele havia solicitado toalhas extras, e elas estavam ali, espalhadas sobre uma mesa de madeira. No domingo, ele disse que não queria que seu quarto fosse limpo.
Olhando a cena, a funcionária perguntou se ele estaria ocupado rezando, mas sabia que algo não estava certo. Ela ligou para o dono do estabelecimento, Gabe, que correu para o quarto 5 e, cautelosamente, foi em direção ao estranho hóspede.
Gabe se aproximou e pôde ver um cinto de couro enrolado em torno de seu pescoço e preso aos cabides. Dentro, oito notas de 20 dólares – dinheiro suficiente para pagar as noites em que esteve ali e uma gorjeta generosa.
Gabe ligou para o 911, e logo um paramédico chegou. O hóspede não havia deixado nenhuma identificação no quarto: nenhum cartão de banco nem carteira de motorista ou passaporte.
Os policiais começaram a buscar alguém que conhecesse o jovem, mas não havia nenhuma pista. Durante as semanas seguintes, ninguém procurou um homem desaparecido na região.
Prevendo que Lyle era apenas um nome falso, os oficiais usaram o DNA e as impressões digitais do jovem e buscaram em todos os seus bancos de dados: nenhum sinal. O endereço que ele havia anotado na folha de registro pertencia a outro hotel, onde ninguém o reconheceu também.
Lyle Stevik simplesmente não estava em nenhum banco de dados, diretório de telefone, censo ou registros eleitorais.
Lyle Stevik não existia.
Quando o detetive Lane Youmans chegou ao quarto, colocou sua xícara de café na mesa de cabeceira e analisou a cena: Lyle ainda estava no canto, com o cinto no pescoço. A luz do banheiro estava acesa e a porta, parcialmente aberta.
Ele notou que os travesseiros foram presos entre o guarda-roupas e a parede, em ambos os lados. Ele teve que resistir ao desejo visceral de simplesmente se levantar quando seu corpo entrou em “modo sobrevivência”.
No bolso traseiro de sua calça, foram encontradas oito notas de 1 dólar. Na gaveta de uma das mesas, um tubo de pasta de dente, uma escova de dentes e mais alguns trocados.
Em uma pequena lata de lixo preta, havia um jornal e um copo vazio. Próximo a eles, um pedaço de papel amassado onde se lia “suicídio” em letras maiúsculas.
Ao comparar a letra de Lyle no papel e no seu registro na recepção, o detetive Youmans notou algumas diferenças. “Lyle fez seu registro com a sua caligrafia normal. Eu acredito que ele escreveu ‘suicídio’ em letras maiúsculas como um sinal para quem o encontrasse. Ele então percebeu que seria óbvio e descartou a nota”, conclui.
O detetive também acreditava que Lyle vinha de uma família de classe média-alta, já que suas roupas eram boas, ele não tinha marcas de trabalho manual, e sua aparência era ótima.
Na quarta-feira, 19 de setembro, o legista, Dr. Daniel Delove, ficou observando o corpo de Lyle: suas roupas tinham sido removidas, mas seu pescoço ainda estava envolto pelo cinto de couro desgastado. Também não havia nada de errado em sua saúde: seus órgãos estavam em boa forma, ele não fumava e estava totalmente sóbrio quando se enforcou.
Notavelmente, os dentes estavam em excelente condição. Quatro tinham sido removidos — dois pré-molares superiores, dois inferiores — provavelmente para dar espaço para algum aparelho, resultado de tratamentos de ortodontia caros.
Sua etnia não pôde ser determinada nem a sua nacionalidade.
Lyle foi enterrado em uma cova sem marcação no Fern Hill Cemetery. Ele não teve um funeral. Ou uma lápide. Ou quaisquer flores.
Várias pessoas passaram a vasculhar todas as evidências disponíveis, discutiram hipóteses, criaram teorias e tentaram achar a família do jovem.
As pessoas se dividiram em linhas de pensamento: alguns acreditavam que “Lyle Stevik” era o nome real do jovem e que, por algum motivo, ele havia conseguido ficar de fora de qualquer registro oficial. Outros achavam que Lyle era um imigrante ilegal e lembraram que “Stevik” é um sobrenome muito comum na Noruega.
Houve até quem comparasse o caso ao romance “You Must Remember This”, de 1987. Seu pai, Lyle Stevick (com um C), entra em depressão e se enforca no porão de casa.
Alguns pensaram que ele poderia ter perdido algum ente querido nos ataques de 11 de setembro. Outros acharam que ele estava envolvido no atentado.
Você pode estar se perguntando por que tantos estranhos estão preocupados em resolver um caso depois de 15 anos. Um dos internautas que acompanham o caso publicou uma explicação:
“Lyle imediatamente me chamou a atenção porque ele era jovem o suficiente para ser meu filho, e as circunstâncias — o suicídio, sozinho em um motel barato — eram tão desesperadamente tristes”, disse. Eu não posso afastar a sensação de que ele se matou porque acreditava que ninguém se importava com ele. Às vezes, me pergunto o que ele pensaria das centenas de estranhos que se preocupam tanto e discutem todos os dias tentando lhe devolver o seu nome”.
O mistério continua: Quem é esse homem?
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